sexta-feira, abril 27, 2018

CAMPEONATO DO PEDRA FINA: O ESPORTE AMADOR MOVIMENTAVA OS NOSSOS DOMINGOS





s vezes torna-se interessante contar as histórias políticas, sociais, de um Município, sempre tratando de figurar o que podíamos chamar numa expressão que acho hoje obsoleta e mais usada no jargão sindical - a burguesia - que era uma classe social do regime capitalista, os grandes detentores do capital, ou seja, comerciantes, industriais, os latifundiários, os possuidores de riquezas e dos meios de produção. Essa regra não mudou, porque sensibilizar esses “burgueses” é preciso de mídia, de sensacionalismo e do retrato real produzido por eles próprios. Só assim se consegue a exemplo da nossa região semiárida, voto, poder, garantia de mordomias, e isso sempre vamos promover para essas classes “minoritárias” através do sufrágio nas urnas. Direta ou indiretamente eles serão os privilegiados porque o Congresso nacional está a serviço desses senhores. Que o diga a Lava Jato e outras operações que de forma muito acanhada consegue colocar um figurão da alta sociedade atrás das grades.

Mas o quer que nossa história tem a ver com esse relato? Simples: sempre devemos contar a história colocando o povo como protagonista e não como mero figurante nas transformações que um município precisa para se desenvolver.

O Campeonato do Pedra Fina –



Por isso que contei a historinha acima para mostrar como ideias de gente simples pode ocasionar mudanças para uma parte da população que apenas recebe acolhida do poder público como meras promessas, quando essa mesma comunidade mostra de forma organizada, sem apoios de políticos, que pode fazer acontecer. Foi o que fizemos apenas com vontade, coletividade, união e amor pelo esporte.

Bem aqui, onde hoje ficam as Ruas da Canastra, Demóstenes Simeão e outra extensão que não consigo fixar metodicamente, ficava o Campinho do Pedra Fina, onde aos domingos realizávamos os campeonatos com várias equipes (times) da cidade, desde, José Martins, Rua do Padre, Rua 11 de Setembro, do centro da cidade, para movimentar com o esporte favorito todas essas comunidades. O ano era mais ou menos 1980 - 82 e o local onde ficava o campinho (que muita gente chama de Várzea - Campo de futebol usado por times amadores e que se constrói num terreno plano e baldio) tinha muita pedra e era impossível realizar partidas de futebol em um terreno tão perigoso. Bolas de couro, de plástico, são incontáveis quantas perdemos porque não suportavam por muito tempo o desgaste de um solo tão irregular e impróprio para prática do futebol. Até isso driblamos. Foram realizados mutirões com os próprios atletas para recolher partes daquele corpo duro e muitas vezes pontiagudos que podia causar sérias contusões aos desportistas.

Nos dias de jogos sempre dominical, aquelas ruas ainda sem infraestrutura ficavam como se fossem formigueiros com tanto expectador torcedor para vibrar com as partidas daquele singelo campeonato.

Tínhamos até uma sede própria (ali na Rua Joaquim Alves de Castro) para discutir os assuntos do campeonato e lembrando que a tabela era feita a mão e os sorteios dos jogos eram realizados sempre com a presença dos donos das equipes, com o nome dos times escrito em papel e colocados dentro de uma caixa de papelão. Discussão aconteciam, mas sempre dentro do tolerado. O aluguel da sede era pago pelos atletas, dirigentes das equipes e pelos próprios torcedores e moradores daquele trecho que viravam colaboradores. Os times eram organizados com seus padrões e tinham aqueles que confeccionavam até os bancos de madeira para os reservas e o técnico ficarem além das linhas de demarcação de cal ou gesso (tudo cotizado entre os proprietários das equipes e os jogadores).

Fla-Paixão, Santa Cruz, de Antonio Lambu (in memoriam), Náutico de Osmar Pereira (In memoriam), Grande Serra de Nelson Lopes, Aikidô de Edelgardo Braz, Sport, Zé Martins, o Santo André, o PDS, entre outros que me foge à mente, faziam o mutirão para aos domingos disputarem as partidas marcadas com etapa semanal do campeonato. Tudo começou com bola de plástico (a famosa bola de vinil dente de leite – que passava por um processo de cozimento para ficar mais dura e resistente) e mesmo assim, quando às vezes acontecia de bater em uma pedra pontiaguda, estourava e era um corre-corre para que o organizador do evento providenciasse outra. Mas todo mundo colaborava e sempre se fazia vaquinha para comprar uma nova, quando não era interrompido as partidas e não havia solução a não ser esperar para a segunda-feira.

Alguns atletas que ilustravam o espetáculo amador eram Baza (o craque da época), Fábio de Nega, Lola (irmão de Baza), Genilson (im memoriam), Cuscuz, Edelgardo, Pifita, Alberto Muniz, Everaldo e Carlos Paixão, Nelson Lopes (goleiro da equipe da Grande Serra), Assuélio, Valmir, Jailson, Wilson, Romerio, Perninha, Neguinho, Paulo Brito, Décio, Lalá (o melhor zagueiro), Joaquim, Zé Mago, Horácio (im memoriam), Fiinho (Irmão Alencar – era goleiro), Rogério (Roginha), Pinta Silva (trocadilho com pintassilgo – o pássaro), Dinha, Albérico e César...

Paralelo ao Campeonato do Pedra Fina com seu futebol amador, acontecia o Campeonato no Dozão – o estádio de futebol de Araripina – ali onde fica hoje o Sesc Ler, e que realizava o chamado campeonato de elite que tinha o Náutico de José Alencar, Artesa, Araripina e outros que apresentavam como os craques da época, João de Nega, Severino de Alcino, Boré, Chicão, Dedin, Gilson, Edilson, Totó, Chagas, Veinha...


Os personagens do Campeonato do Pedra Fina e que marcaram por suas participações fora das linhas divisórias do pequeno terreno baldio e cheia de ondulações foram: Osmar Pereira (Mazinho), Dedé de Josias (Pai de Baza), Antonio Lambu (meu pai), Wilson Pelado, Sevir, e muitos outros torcedores e dirigentes das equipes que abrilhantaram esse momento que aqui estou relembrando com muito saudosismo.

Era um tempo de muitas dificuldades e todo mundo participava de uma forma ou de outra para que aquele campinho que juntava uma multidão para assistir os jogos aos domingos não chegasse ao fim, já que um fato isolado havia acontecido dando parecer de que aquele evento amador que atraía os craques esquecidos pelo futebol de elite de Araripina finalmente ia ficar apenas nas nossas recordações.

Os pontos de encontros daquela turma que se aglomeravam a partir das 6h30 da manhã aos domingos ali na rua 11 de setembro na porta da casa de meu pai e minha mãe, na porta da casa dos estudantes Cuscuz (também atleta) e Zé Filho, na casa de Sevir, de Dedé de Josias, que se estendiam até a rua alta (11 de Setembro)  onde moravam Pinta Silva, Albérico, Valmir e Assuélio, as algazarras ao final do dia, os encontros na sede, *Charlô, o dirigente do Bangu, tudo isso, nos faz tratar as lembranças como fatos vivos ainda nas nossas memórias para rebuscar aquilo que de forma tão singela, foi importante e marcaram as nossas vidas.

Por isso que termino aqui essa reflexão querendo que você que está lendo agora esses relatos, entenda como é magnifico falar das coisas simples com a mesma simplicidade dos fatos que me levaram a conduzir a essa viagem em que os atores figuram como protagonistas da nossa história. Simples assim.

*Em uma reunião em que todos discutiam e falavam ao mesmo tempo, foi colocado em votação e dado a palavra a Charlô que não havia ainda se pronunciado. Perguntado se era contra ou a favor de tal decisão ele respondeu:

- SOU CRONTA (isso mesmo, CRONTA). A reunião terminou com muitos risos.

Todo dia uma história, toda história que um dia foi vivida.

Boa leitura.

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Blog do Paixão

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